terça-feira, 29 de março de 2011

APRENDENDO COM A NATUREZA

PALAVRAS MORTAS
OUVIDOS MOUCOS

Educar nunca foi uma tarefa fácil. O processo exige dedicação, atenção, investimento financeiro e bons exemplos. Quando criança, os mais velhos diziam que os homens e mulheres de bem faziam das suas ações a vitrine do seu caráter. Mais que palavras, as atitudes é que contavam como fonte de respeito, inspiração e confiança. O agir trazia em si algo de grande importância na experiência do educar. A incontestável verdade do testemunho.
Assumir a missão de promover ações socioambientais em favor do povo ribeirinho e do rio São francisco possibilitou a oportunidade de caminhar por diversos espaços de educação aqui na capital e no interior. Tem sido uma experiência muito rica, onde o sopro da esperança nos tem confortado com a confiança no futuro e a paciência nas dificuldades.
Levamos para Santa Maria da Vitória- Ba, em novembro de 2010, 15.600 mudas. Existe um fluxo de amor e solidariedade disperso, precisando apenas ser conduzido e organizado para o promissor amanhã. No entanto não tem sido uma tarefa fácil vencer além das dificuldades materias, as emocionais e espirituais alicerçadas na preguiça, no comodismo, na descrença e na inveja.
Tenho enfrentado situações de muita dificuldade e vergonha. Constatar em algumas cidades ribeirinhas a falta de envolvimento da população com a causa ambiental é preocupante. Porém o que mais chama a atençaõ são os professores que ainda não assumem um projeto educacional que efetivamente atue na bacia hidrográfica do Velho Chico. Saber que eles estão com seus alunos alunos no coração do Rio e cruzam os braços é constrangedor. Ouvir de diversos alunos na cidade de Santa Maria- ribeirinha do rio Corrente, um grande afluente do São francisco - que nunca tiveram a oportunidade de plantar uma única  muda de árvore por falta de incentivo de seus educadores- é de entristecer qualquer visitante.
Ouvir constantemente das crianças da primeira fase do fundamental que os adultos não têm ofertado suas vidas com gesto de bons exemplos, é também constrangedor. Pobres "crianças vítimas", caem nas garras do mau gosto, do relativismo, da "pornofonia". O glamoroso carnaval esta aí para testemunhar nossa decadêencia musical e existêncial.
Sei que estou delatando situações de grande gravidade, mas minha denúncia não tem a intenção de excluir ou degenerar a caminhada de pessoas que são divinamente humanas. Mas levantar a voz em favor das crianças, que não aguentam mais constatar tantas aberrações de caráter no universo dos adultos.
Acredito na essência ontológica do ser humano em desejar cuidar daqueles que amam. Sendo assim, aproveitando que estamos começando mais um ano letivo, tudo começa de verdade nesta cidade depois do carnaval. Penso que a melhor maneira de promover uma grande revolução na Educação deste país é aproximar de forma incondicional nossas palavras das nossas ações, caso contrário tudo passa a ser palavras vazias para ouvidos moucos.

Wellington Magalhães

Artigo do Jornal São Salvador
Março de 2011

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